Ouvi recentemente um comentário que me deixou muito chateada.
De visita a um ambiente acadêmico, ouvi de uma mãe que seu filho de 10 anos tinha horror a leitura; qualquer coisa que a professora pedisse na sala de aula para ser lido era um suplicio, ele simplesmente não lia. Mesmo estando a parte da conversa, ouvi quando a professora perguntou se seu filho não lia coisa alguma. Ela respondeu que ele não lia coisas 'importantes' apenas 'quadrinhos'! Desconsidero o comentário da mãe e não me intrometo na discussão, mas não pude me segurar quando ouvi da professora que os quadrinhos são realmente um pesadelo para a leitura dos alunos!
Meu sangue ferveu (mas fui muito educada como meus pais me ensinaram. ha, ha, ha!!), me intrometi na conversa e deixei minha opinião.
Disse sem modéstia para a professora que eu era a prova viva de que as HQs não eram empecilho para a leitura, justamente o contrário: pude lhe afirmar que aprendi a ler na idade correta graças aos gibis da Turma da Mônica e da Disney (Pato Donald, Pateta, Tio Patinhas, etc.), já que nos mudávamos constantemente de cidade e eu consequentemente de escola.
Ela ouviu calada eu lhe dizer que, se o motivo do preconceito eram os temas abordados nos quadrinhos, poderia pesquisar mais, pois não é recente o uso de temas 'acadêmicos' no material das HQs! Exemplos são os mais variados: Na década de 80, a série Antologia da BD Portuguesa contava as aventuras de alguns personagens tidos como heróis nacionais, Ivan Watsh Rodrigues desenhou diversas HQs históricas como Rondon, O Último Bandeirante; O Tigre da Abolição, com a biografia de José do Patrocínio;Casa Grande & Senzala (do queridinho dos professores: Gilberto Freire), André Torral roterizou e desenhou Adeus, Chamigo Brasileiro - Uma história da Guerra do Paraguai, e a literatura nacional e internacional também já tem versão em quadrinhos como Jubiabá de Jorge Amado, alguns contos de Machado de Assis, etc. Além do mais o livro Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula, de vários autores, sob a coordenação do professor Waldomiro Vergueiro, do Núcleo de Pesquisa em Histórias em Quadrinhos da ECA-USP, traz propostas diferenciadas para cada disciplina com exemplos de HQs adequadas a essa aplicação, dentre outros.
A professora calou, a mãe me escutou atenta e para ela eu disse que incentivasse mais seu filho a ler, fosse lá o que fosse, pois ele ganharia em conhecimento e seria incentivado a gostar dos assuntos escolares quando exibidos de maneira conhecida para ele.
As revistas em quadrinhos são um meio de difusão de culturas, idiomas e conhecimentos diversos. Os desenhos encantam crianças e adultos, e a utilização correta na sala de aula enriquece o vocabulário dos alunos e os aproxima de uma linguagem universal.
Deixo meus agradecimentos ao Mauricio de Souza, Ziraldo, Luis Augusto, Loureço Mutarelli, Wall Disney, entre outros, pois abriram para mim o mundo maravilhoso da literatura e graças a eles não passo um dia sequer (mesmo em dias corridos) sem ler ao menos um capítulo de livro e nem um único mês sem adquirir exemplares para minha biblioteca pessoal.
P.S.:
Na net é possível encontrar vários artigos sobre o uso de HQs no meio acadêmico, destaquei dois do site especializado Universo HQ. Em um deles Sidney Gusman, editor-chefe do Universo HQ e jornalista, conta uma situação bem semelhante a que passei:
Os quadrinhos a serviço da (boa) educação - Sidney Gusman
Livros sobre HQs: 2004, o ano que não acabou - Nobu Chinen
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